quarta-feira, junho 09, 2010

essa tal modernidade


a modernidade é fato. e além de explícita, caminha a passos rápidos. graças a ela temos mais conforto, mobilidade e firulas. no campo da maternidade então, nem se fala. o que seria de nós, mães, sem a fralda descartável? mulheres mais atarefadas, com as mãos maltratadas. assim como nossas genitoras.

mas, às vezes, essa tal modernidade chega a me incomodar. como mãe, em certas situações sinto-me impulsionada a agir como aquela mãezinha tradicional, caretinha, estapampada em caixas de produtos antigos. e, no afã de agir assim, pego-me beliscada pelas traves dos ditames modernos. ninar uma criança, por exemplo, é a coisa mais aconchegante do mundo. pegar um bebê no colo, conseguir acalmá-lo, fazê-lo sentir-se bem em seus braços, cantar e vê-lo fechar os olhinhos pouco a pouco, te vendo e não te vendo, até dormir e desacelerar a respiração é algo, pra mim, emocionante. mas quantas vezes já ouvi que tal atitude não é boa? que isso torna a criança dependente do ninar pra adormecer? afirmações tão incisivas quanto castrantes, já incluídas nos modernos manuais de comportamento infantil. assim, quando estou lá, a cantar pro miguel, com a mente nas nuvens, lembro-me dos referidos manuais e logo o coloco no berço, no susto, despencando do êxtase para o chão.

acredito completamente na psicologia e dela sou fã incondicional. e creio mais ainda que a educação evoluiu muito, tornando as crianças mais espertas, estimuladas e independentes. leio diariamente sobre o assunto, sou humilde e absorvo as orientações. enfim, aprendo! mas mandos como "o berçário sociabiliza o bebê", "boi-da-cara-preta não deve ser cantada" e "não se deve ter tanto cuidado com os recém-nascidos" chegam a me desconcertar. admito que mães de primeira viagem costumam exagerar nos detalhes, mas tenho consciência que não extrapolo, pois me policio bastante. tenho pavor que miguelito se torne um adulto mimado.

o que faço é prestar atenção aos pequenos pontos, degustar o capricho, ligar-me ao ambiente infantil, manter uma comunicação afetiva, tentar fazer-me entender e ser entendida. o que faço é lembrar da minha mãe: suas mãos dando tapinhas nas minhas costas, tentando fazer-me dormir, depois de muito choro. essa memória sensorial é tão aprazível, eterna e insubstituível que congela qualquer orientação negativa sobre o ninar e outros afazeres antigos como a minha alma.

sobre o "boi-da-cara-preta"? ah, pelo menos até que miguelito entenda que um animal com cara de cor escura possa sair lá do curral, na roça, entrar no nosso prédio, passar pelo porteiro, adentrar o quarto e assustá-lo, vou continuar cantando a curiosa modinha. além do mais, ele adora bois e não tem medo nenhum de careta.



2 Comments:

Blogger Nina said...

adorei tudo fields! e confie sempre no seu coração, esse nosso melhor amigo, ele que tudo sabe e que vai te guiar, sempre :)

1:03 AM  
Blogger Rita Lopes said...

é isso que tenho feito! bjão, fields!

9:16 AM  

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