terça-feira, agosto 31, 2010

insinuação

da moça que vi passar, vi de tudo.
do decote do busto ao risco da lombar.
se pudica fosse, ou se quisesse apenas indicar,
teria mostrado o pescoço ou somente o calcanhar.

do moço não vi quase nada. tudo ele estava a tapar.
não queria ser visto, até o rosto insistia ocultar.
mas vi o que era preciso: sorriso gigante, menino no olhar.
não que fosse tímido. era a alma que queria mostrar.

segunda-feira, agosto 30, 2010

amigos

a família sempre vem, mesmo, em primeiro lugar. pra quase todo mundo é assim. mas os amigos, aqueles bem queridos, ganham em disparada e muito merecidamente o segundo lugar nessa corrida da vida. graças a deus, apesar do casamento e da maternidade, eu fortaleci meus laços de amizade e quero preservá-los ao máximo, em qualquer circunstância de correria doméstica ou atribulações profissionais. em momentos de tristeza, nem se fala. aí é que preciso mesmo de colos alheios, já que mamãe Lola se foi há tempos.

com a tecnologia, então, eu venho mantendo ligações constantes com os amigos, até mais do que antes, quando o e-mail e o twitter não eram tão viciosamente presentes em minha rotina. o que de início parecia-me frio e seco, por eu ter de beijar, abraçar e dizer parabéns via computador, hoje soa-me tão agradável, forte e apaixonante que eu já quase não sobrevivo sem o mundo virtual.

por meio dele converso com as minhas queridas e saudosas ninna fields e tulinha, que vivem na austrália e nos estados unidos. troco trabalhos e confidências com o trio de âncoras catarina fürst, fran e pedro esteves. rio horrores e admiro o texto do grande companheiro adilson marcelino, em seu blog insensatez. mato as saudades de renato fernandes e ainda peço-lhe conselhos sobre informática. entro no bate-papo com lu brigida, nos intervalos de trabalho, pras fofocas da firma. delicio-me com as receitas da colega de mesa clara bello, em sua página quitutes gourmet, e descubro, a cada dia (e neste caso, presencialmente), a pessoa espetacular que ela é. troco pensamentos transcedentais com as quase hippies raquel salomão e alessandra machado: soldados de guerra ex-puc/jornalismo. e imagino hely costa correndo com as pernas de fora na orla da lagoa, a cada km percorrido que ele posta no twitter. como ele mesmo me disse, num e-mail pra lá de carinhoso (e que me rendeu um dia), "bendita seja a tecnologia, que nos mantém conectados e interligados e, mesmo fria, permite momentos tão delicados como este".

e o mais surpreendente dessa relação virtual é que, na medida do possível, temos até nos encontrado mais: eu digo, fisicamente. no último meeting, na comemoração do meu aniversário de 40 anos, conversamos bastante, in loco. tudo real, de carne e osso, palpável, todos muito lindos e deliciosamente abraçáveis. pena que a mamãe aqui, sem posse de máquina digital, não captou nenhuma cena da festa. parece até que foi providencial: é o tempo que chega e testa meus neurônios, minha capacidade de lembrança, meu registro visual. adequando-me ao tema, minha memória ram.

quinta-feira, agosto 26, 2010

literatura materna



todos os dias chego no serviço com uma promessa: não ficar contando as peripécias de miguelito. sim, porque a expressão "pagar a língua" vem sendo muito impiedosa pra mim. quando era jovem, achava penoso ficar ouvindo as mamães recentes relatarem cada passo, cada letra e cada dente que pipocava na boca de seus rebentos. e elas contavam de uma forma tão repetitiva e idealizada, que eu prometia a mim mesma que "nunca faria isso" com meus colegas de trabalho.

e não faço mesmo (?). tento me segurar ao máximo. travo os lábios com os dentes, tomo muito chá de camomila e desabafo aqui no blog. meu anjo da guarda colabora também nessa censura, ouvindo-me, com certeza, com toda a paciência e compaixão características das boas almas. só tem um porém: basta chegar aqui um ouvinte dalai, uma mãe compadecida ou mesmo um cachorro manso pra eu abrir a torneira e contar que, ontem, o muchacho imitou o elefante, falou "bunda" ou gritou sonhando.

toda mãe quer escrever esse capítulo. aliás, toda mãe quer publicar um livro sobre o filho e ainda quer que ele seja best seller. de preferência, que o elemento principal conquiste a repercussão e o brilho de um prêmio nobel. ainda que o filhote não apresente nada de desigual, seja comunzinho, meninote, ingênuo e somente travesso. o fato é que esse personagem, mesmo muito simples e sem títulos vai ser, para a literatura materna, nada menos que um verdadeiro peter pan. (com a mamãe de sininho).

quinta-feira, agosto 19, 2010

quase lá


os 40 se aproximam e, com essa proximidade, venho me questionando em valores, hábitos e tititis. começo a achar mais cabelos brancos na minha peruca e, assim, a dúvida atual é com que cor de tintura vou desvirginar meus ondulados, escuros e paraguaios cabelos. ainda não me decidi. e isso vai ser difícil, porque a infinidade de opções no mercado deixam todas as mulheres e gays enlouquecidos. antes havia só preto, castanho, louro e o famoso acaju. hoje a multiplicidade de cores beira o irreal. será que existem, mesmo, tantas nuances? pra mim, isso tudo é ilusão de ótica, uma manifestação ilusória da vaidade feminina. isso é vontade de ficar horas nas lojas rede gastando tempo com o fútil. o que, aliás, é muito prazeroso.

dei pra usar mais maquiagem. meu remédio da tireóide, café da manhã e rímel tornaram-se necessidades iguais e absolutas no início do dia, quase no mesmo nível de importância. se bem que o terceiro vem disputando o segundo lugar no pódio com o café da manhã. quando chego ao serviço, não sei se passo o rímel e vou bonita tomar café, ou se mato a fome com cara de brôa mesmo.

estou tentando também ser o mais saudável possível na alimentação. mas o tal do pretinho cafeínico, o açúcar venenoso e o pão de cal me corrompem a todo momento. À tarde a coisa se marginaliza ainda mais. olho pra banana, amarelinha e cheirosa, querendo optar por somente ela. afinal, a fruta alimenta e é minha preferida. mas acabo devorando-a e indo tampar o buraco que resta na copa, no lanchão da padaria. nem a mania de bananas do pessoal do setor - eles comem a fruta o dia inteiro - não me convence. não sou tão influenciável assim.

enfim, a luta é por uma vida melhor, de qualidade, com vistas a mais uns 40 anos. quero ver, como já disse, miguelito crescer, ganhar diploma, se quiser casar-se, ter filhos ou se aperfeiçoar na conquista eterna e solteira. sei lá, quero alongar-me, arrastar o morrer, envelhecer, deitar-me na lida, plantar semente. ou seja, viver.

quinta-feira, agosto 12, 2010

dúvida existencial



no sábado, miguel olhou pra garrafa de amarula, em cujo rótulo caminha a roliça figura de um elefante, e disse, certeiro: "mamãe". (...) ainda estou pra entender.